Eu não tinha certeza do que me prendia a ele, mas também não fazia ideia do que não me deixava ir embora. Ele nunca passou se um cara comum, desses que eu poderia conhecer em qualquer barzinho, rodeado por amigos, mulheres descartáveis e boa bebida. E isso me angustiava mais do que o normal. Afinal, maior parte desses caras que conhecemos por aí são iguais, mas eu tinha certeza de que ele não se encaixava tão facilmente assim nessa laia. Eu queria saber se estava enganada, se ele realmente não era mais um cara banal que ia passar na minha vida.
Nos beijamos. Ele não precisou de mais de meia dúzia de palavras para me beijar. Um absurdo, eu sei. Mas naquele dia, eu quis testar os meus limites. O álcool não me dominava. Alias, verdade seja dita: Ele nunca me dominou. Mas como eu não faço nada na vida sem uma teoria ou justificativa, o usei sem pensar duas vezes. E naquele momento, ele deixou de ser mais um cara vazio. Em questão de segundos, eu já tinha percebido que estava me metendo em uma das maiores furadas da minha vida. Certos beijos possuem tanta intensidade, tanta entrega, que valem mais do que uma vida.
Nenhum diálogo, nenhuma amizade de anos ou qualquer envolvimento possível que eu poderia ter com ele, não se comparava a nossa afinidade. Eu queria saber dos seus medos, do seu passado, do seu sexo. Eu queria ter ele nas mãos com a mesma ansiedade de uma criança com um brinquedo novo. Sem perceber, eu havia me transformado em uma criança mimada, egoísta e ciumenta. Não dividia, não emprestava, não vivia. E quando abri os olhos e chorei o maior choro do mundo que eu finalmente percebi o quão profundo era o poço em que eu havia me metido. Desde o começo, eu sabia que ele era confusão das boas, mas o que algumas palavras bonitas não fazem? Que mulher não quer ser a exceção do cara que ama? Que mulher não procura sinais o tempo todo, na esperança de encontrar uma solução pro que machuca? Observação: Nesse momento, meu professor acaba de dizer, aleatoriamente, que uma vida boa não é de mais nem de menos, é a boa pra dois. Isso deve ser um sinal, não é? Triste realidade.
É, você, minha mãe, meus amigos e até mesmo meu professor de histologia acham que eu deveria colocar fim no que me machuca mais do que me faz bem. Mas será que alguém pode se colocar no meu lugar? Eu tirei toda a minha armadura, abandonei meus medos e ignorei meus princípios para ficar do lado dele. Ele descobriu coisas que eu não fazia ideia de que escondia. Fez meu corpo, minha alma, meu sorriso de mapa e explorou cuidadosamente cada sarda minha. E toda vez que me perguntam o que esse cara comum tem de tão incrível pra me manter fiel aos meus sentimentos mesmo na dor, eu me mantenho silenciosa. Sequer me dou ao trabalho de responder. Ele tem tudo ao seu favor e isso basta.